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Afinal, o que faz um Gestor de Food Safety?


O último texto que escrevi suscitou uma excelente discussão e reflexão dentre os meus amigos e profissionais ligados à área de alimentação. Algumas pessoas me disseram que, na verdade, eu estava falando de dois profissionais diferentes: o analista de food safety e o gestor de food safety. Eu concordo de certa forma com essa descrição. Ou seja, acho mesmo que muitas das características que eu especifiquei como sendo do GRANDE PROFISSIONAL DE FOOD SAFETY, são características de gestores. O que vejo como grande problema atual é que muito pouca gente conhece e entende o papel de um gestor de food safety e muitas empresas não sabem que deveriam contratar este profissional e acabam contratando um analista.

Talvez o buraco seja mais embaixo: talvez as empresas da área de alimentação ainda não estejam completamente familiarizadas com o conceito de segurança de alimentos. Ou melhor, as indústrias (grandes), sim, elas têm conhecimento do termo e sabem da sua importância o que não quer dizer, obrigatoriamente, que por isso, elas escolhem produzir alimentos seguros ao invés de alimentos baratos e competitivos. Mas acredito que elas, pelo menos, saibam o que estão arriscando.

O que me preocupa são os pequenos produtores, os fornecedores de nicho, que entraram no ramo meio sem querer e por terem um produto diferenciado e moderno, foram aceitos no mercado, mas acabam fazendo tudo meio de sopetão, sem ter um conhecimento claro e sem entender o que, de fato, é um alimento seguro. Os restaurantes, cozinhas e hotéis acabam se enquadrando aqui também, só que como são bastante fiscalizados pela Vigilância Sanitária (e também por desconhecimento técnico), terminam achando que segurança de alimentos é igual às boas práticas: usar touca, colocar etiquetas, etc.

Assim, se as empresas não entendem o conceito de food safety, dificilmente entenderão sua importância, seus benefícios e vantagens e a concepção de food safety continuará sendo um gasto e, não, um investimento. Por isso eu me sinto na obrigação de começar a colocar os “pingos nos is”, por aqui. É preciso começar a disseminar que para produzir alimentos seguros, é necessário ter um profissional capacitado e competente. Mas, para produzir alimentos seguros, ter um retorno financeiro deste investimento e se tornar referência no mercado (tendo maior confiança de seus clientes), é necessário que as empresas contratem também os gestores. E preste atenção, que eu escrevi “também”, ou seja, uma (pequena) equipe de funcionários é essencial para este trabalho, pois precisamos de manipuladores treinados, conscientes e comprometidos com a segurança de alimentos, mas também precisamos de analistas, que saibam monitorar com eficácia, no dia-a-dia, os sistemas implantados (sejam as boas práticas ou o APPCC) e, logicamente, precisamos de um gestor que conduza isso tudo.

Quando fui pesquisar o conceito de gestor, me deparei com Jules Henri Fayol, um engenheiro francês e um dos teóricos clássicos da ciência da administração. Ele definia o gestor como “a pessoa apta a interpretar os objetivos levantados pela empresa, atuando sempre com base no planejamento, organização, liderança e controle”. Dessa maneira, um gestor de food safety é aquele que lidera a implantação de sistemas de segurança dos alimentos, define e estipula os papéis de cada um de sua equipe para que o sistema se mantenha em funcionamento, concatena os dados coletados a partir de monitoramentos e verificações e trabalha com a melhoria contínua dos sistemas.

Esse gestor é a principal ponte entre a diretoria da empresa e a equipe de produção, pois sabe argumentar e apresentar resultados, além de traçar as metas, analisar as causas-raiz, calcular os custos de não-qualidade, solucionar as não-conformidades de maneira coerente, participar de decisões estratégicas de modo eficiente e, muito importante: o bom gestor sabe mostrar o retorno do investimento feito na sua contratação e no seu trabalho e apontar, numericamente, todas as melhorias agregadas.

Alguns dos avanços relacionados com uma boa gestão de food safety são: acréscimo do orgulho e do comprometimento da equipe e consequente diminuição de turnover, aumento do valor do produto e da imagem da empresa, diminuição ou extinção de prejuízos com multas e interdições, redução do desperdício de alimentos e energia, aumento de produtividade, cessação de despesas com equipamentos danificados por mau uso, sem falar na total adequação da empresa às legislações vigentes. O gestor de food safety que lidera equipes é aquele que também sabe se comunicar com todas as hierarquias e isso, por si só, já é uma grande vantagem de seu trabalho: ele inspira, capacita e une os funcionários em prol de uma ideia.

Logo, empresas que procuram e contratam um bom gestor de food safety, acabam saindo muito à frente de seus concorrentes. Elas apenas precisam entender que, por essa definição ainda ser algo muito recente, logicamente haverá dificuldades em encontrar estes profissionais. Em uma pesquisa rápida, percebi que nem as instituições de ensino e de formação profissional estão preparadas para isso, pois não formam estes gestores, elas formam os analistas. Mas é imprescindível entendermos que um bom analista, com alguns anos de estrada, com senso de liderança aperfeiçoado e que busca estar atualizado e qualificado, acaba impreterivelmente se tornando um (bom) gestor.

E você, o que acha disso tudo? Tem algo a acrescentar à discussão? Gostaria de compartilhar suas ideias e experiências? Comente aqui e vamos continuar essa reflexão tão importante de definição de gestor, analista, etc.

Não poderia terminar este texto sem dizer que, se sua empresa quer uma gestão competente de food safety, pode começar procurando aqui.

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